El Complejo de Inferioridad
Voltar à normalidade depois de duas semanas de férias excêntricas pode ser verdadeiramente desafiador para quem vê nas instalações do Complexo um protótipo de "La casa de papel".
Apesar de algumas dissemelhanças, meramente ornamentais, e da tecnologia avançadíssima dos equipamentos dos laboratórios ainda não permitir a impressão "del dinero", o mais importante é que, nas pautas das avaliações intercalares, o número de reféns continue a superar o número de sequestradores.
Sem cobertura de rede, as comunicações efetuam-se, de forma analógica, a partir dos anfiteatros. Algo que, de resto, bem sabemos, elimina qualquer possibilidade de contacto com o exterior, mantendo, assim, os subordinados extraordinariamente focados nas palavras "del profesor".
Acima de tudo, o mais importante é "ganar el tiempo". E o tempo é a única coisa que a faculdade nos rouba, ciente da sua degradação progressiva. Por mais remendos que se façam para ocultar o dano, todos percebemos que, mais cedo ou mais tarde, o fim será inevitável. Quem irá escapar? Os manifestantes contra as condições miseráveis da cantina ou os talheres em crise conjugal?
Já perdemos a relva, os tetos e a perseverança, mas, ainda assim, somos a resistência! Que o digam os discentes de Química Farmacêutica Avançada: inocentes presos ao desespero da incerteza. 912 "horas de atraco". Nenhuma resolução.
Por determinar, permanece, igualmente, a origem dos inúmeros lençóis de água que se replicam dia após dia, ou mesmo o surto que ocorreu há pouco mais de uma semana.
Tudo havia sido meticulosamente preparado. Pregos certeiros, homens discretos: um plano perfeito. Foi assim que, em plena semana santa, se soergueu não um, mas dois templos. A verdade é que a MOSTRA UP nos trouxe muita coisa. A princípio, a nostalgia de quem há um par de anos estava do outro lado com Síndrome de Estocolmo. E, depois, a inocência de quem, ao pisar solo alheio, se transforma numa autêntica Dora, a Exploradora.
E vai disto, uma invasão sem rédeas. Uma quase carnificina provocada pela inquietude de menores, da qual apenas a associação de estudantes escapou, graças à audácia da equipa de organização deste evento. Comprova-se: barrar a entrada resulta, sobretudo se o nosso estômago se deparar com comida e isso for o suficiente para o deixar a bater palminhas.
Como veem, na nossa faculdade, sabemos como lidar com os instintos primários e aproveitá-lo a nosso favor. Por isso, não ficamos indiferentes à excelente oportunidade de todo este aparato e, em conjunto com os cães do ICBAS, começamos a escavar um túnel que ficaria, em poucos dias, repleto de tesouros: envelopes opacos, abertos e identificados com nome e número e cheios de certificados. Nada mais, nada menos do que a garantia de umas férias paradisíacas para cada um dos "atracadores".
E quem não se atracava a uma boa vaga se tivesse artilharia para isso?
Hoje em dia, já ninguém chega ao "hangar" se não der um tiro no PE(ECF) porque, por estas bandas, a vida resume-se a cadeiras e mesas em linha: uma boa aparência tão eficaz como as fitas acetinadas que se propõem a reestabelecer a ordem das filas dantescas do bar.
Mas, ainda assim, prosperamos juntos! Aparecemos nos noticiários e estamos prestes a fugir. Pois, então, que o façamos enquanto há tempo, já que, em breve, chega a terceira temporada e, no que às avaliações laboratoriais diz respeito: "O Bella Ciao".
Texto: Andreia Moreira
Créditos Imagem: Instagram João Bento Soares