O Retorno de Saturno

08-10-2018

Já lá vai quase um mês desde que a saudosa FFUP nos deu as boas-vindas e ainda é preciso falar sobre as peripécias de tão tumultuoso acontecimento. Isto porque a depressão de um pós-férias pode ser tão ou mais avassaladora que a tentativa de abispar um horário no MICF, o que, desde logo, pressupõe uma lista interminável de sequelas permanentes que é preciso clarificar. 
Nesse sentido, já se começou a notar que existe um mal geral a disseminar-se: uma revolta intrínseca, um cheirinho a cólera, um desemboque inesperado das aflições mais recônditas da alma. Reações adversas que, desde logo, muito contribuem para fortalecer os laços desta tão grande e inspiradora família que inclui alunos, professores e funcionários. Estamos todos juntos, reunidos na assembleia geral da indignação. Eu não 'tô bem, tu também não 'tá bem, todo o mundo aqui 'tá mal. 
A comunidade ffupiana está a atravessar o seu Retorno de Saturno o que, elucidando os mais leigos em matérias de astrologia, se trata do momento em que ocorre a tomada de consciência das nossas próprias limitações. No fundo, um género de epifania que é, como quem diz, um rasgo de lucidez. E todos nós sabemos como esses são raros no Complexo.
Aos poucos, estamos a convergir para um cenário de versatilidade tremendo. Os rostos da razão já devaneiam por aí, inebriados pelas ideologias dos filósofos mais conceituados. "A vida são dois dias"; "O que importa é ter saúde"; "No pain, no gain".
Ficar sem filtros é perigoso! Causa danos colaterais como saliência das veias jugulares, calvície precoce, distúrbios ligeiros no sono REM e, consequentemente, uma concentração anormal de vasos sanguíneos ou melanina sob a pálpebra inferior a.k.a papos nos olhos a.k.a olheiras.
Por isso, carpe diem, malta! Os relatórios de Farmaco podem esperar, um gene é um segmento de DNA que leva à produção de uma cadeia polipeptídica, a Legionella é causada por uma bactéria, o ciclo da água está no manual de Estudo do Meio do quarto ano e, como a exceção confirma a regra, o produto de sessenta créditos por cinco anos de MICF nem sempre é igual a trezentos, mas quanto a isso podemos estar descansados porque, agora que o Cocas voltou, vão ser estabelecidos limites. 
Também tirando o facto de dois elevadores terem feito queda livre para antecipar o fim-de-semana desportivo da AE; os esforços que a Farmacópia tem vindo a reunir para fechar portas; as centopeias em choque anafilático nas filas para os microondas, a cantina e o bar; a decadência de tudo o que é infraestrutura; umas opcionais terem sido vaiadas e outras promovidas a obrigatórias; os estudantes terem de fazer cadeiras a mais para terminar o curso e os caloiros já terem contribuído para a taxa de natalidade deste milénio, isto não é um cenário assim tão tenebroso. 
Dá perfeitamente para ir mandando uns bitaites nos corredores: uns piropozinhos do tempo moderno: uma espécie de assédio promíscuo e acobardado que muito nos diverte. É sorrir e acenar. Vai na volta a FFUP ainda paga a primeira rodada de exames logo ali em setembro e, sejamos sinceros, quem é que não gosta de um bom warm-up? 
Por isso "solta-te, liberta-te. Abre as asas do sonho tens todo um MICF para te arruinar" e acredita "não há nada melhor depois de um pesadelo poder acordar".


Texto e imagem: Andreia Moreira

Crie o seu site grátis! Este site foi criado com a Webnode. Crie o seu gratuitamente agora! Comece agora